quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

JOAQUIM BARBOSA E SEU PRESENTE DE GREGO!

Não sou muito dada a comemorar o Natal, pelo menos no sentido que se dá a ele. A hipocrisia reinante que faz com que todos nessa época se lembrem do que não lembraram o ano inteiro. Mas, tenho que concordar que há um certo ar de ternura no ar nessa época, apesar do consumismo. Muita gente ainda precisa de datas para lembrar que o nosso mundo pode ser melhor, com mais amor, com mais compreensão, com mais esperança. Entendo que as pessoas precisem disso e por fim, acabo aceitando que vivemos numa sociedade capitalista e portanto comprar faz parte do jogo. No final, me volto também para as compras, e me vejo pensando em todas as pessoas que foram responsáveis pela "vida" daquele produto ou serviço e me quedo, vencida pelas circunstâncias. O sustento de muitos se dá por essa via! Sou uma pessoa que gosto de presentear... Gosto de surpreender as pessoas que gosto... Tento me superar sempre nesse sentido. É minha maneira de ser. Vejo no presente não o objeto de consumo, mas, a energia dos sentimentos que ficam impregnados naquele objeto que fazem do presente algo muito maior. Bem, mas há outras coisas que o Natal, com todas as suas contradições acaba favorecendo nesse momento. Uma dessas coisas é a generosidade e outra é a compaixão. As pessoas mais frias e intolerantes, ainda que por hipocrisia, ainda que para aparecer tentam ser mais solidárias e fraternas. Assim, é inconcebível que o presidente do STF, num momento como esse, diante de todas as circunstâncias suspeitas que cercam a Ação Penal 470 que o Supremo julgou de forma extemporânea, desrespeitando a nossa Constituição queira mandar prender os réus num momento como esse, destroçando os sentimentos de suas famílias, deixando-as apreensivas, sem nenhuma justificativa plauzível para tal! Quantos réus de processos cheios de provas incontestes já ganharam liberdade do STF? Estão soltos! Criminosos perigosos! Corruptos indecentes! Soltos! E o STF quer mostrar o que com isso? Que está punindo corruptos? Doce ilusão de quem acha que esse processo foi relatado de forma séria. Tanto o Procurador da República quanto o Relator foram omissos, negligentes, ocultaram provas que mostravam que os réus não eram culpados, assassinando com isso a reputação de vários deles. E o que pretendem esses dois personagens ao fazer esse movimento num momento como esse? Provar o que? Eles estão com medo! Medo do que estamos mostrando! Medo que suas teses sejam desmascaradas! Medo da força do povo que elegeu o PT e seus líderes! É triste isso! É desolador! Espero sinceramente que Joaquim Barbosa não manche o Natal dos brasileiros com esse "presente de grego". Os presentes que Lula e Dilma tem dado ao povo brasileiro nos últimos anos não foram e não serão esquecidos. Isso vem sendo mostrado a cada eleição. O PT nunca esteve tão próximo de alterar definitivamente o quadro político eleitoral no Brasil. Daí a raiva e a loucura deles! Se isso acontecer, se Joaquim Barbosa deixar seu ego ser mais forte, se transformar o Natal de 2012 numa data lúgubre e revanchista irá selar seu destino. Iremos resistir! Iremos à luta! Faremos o que for preciso! Espero, sinceramente, que ele não queira pagar para ver... E vamos ver para crer, pessoal! Vamos viver esses dias! Que venha o Natal e o Ano Novo!!! 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O QUE ZUMBI TEM COM A JUSTIÇA E O STF?

Refletindo sobre a comemoração do dia da "Consciência Negra" no próximo dia 20 de novembro e a figura notável de Zumbi dos Palmares, comecei a pensar no enorme significado da palavra justiça para nosso país.  Muitos ainda acham que a justiça e o sistema judiciário são a mesma coisa. Ledo engano! Quem dera a justiça fosse feita no judiciário! Quem dera pudéssemos ter um judiciário imune à tradição histórica e social do colonialismo pervertido que teima em continuar vivendo em nossas instituições. Fico impressionada com a quantidade de pessoas que ainda acham que nossas instituições são neutras. Não há uma só instituição no Brasil e nem no mundo neutra. Todas tem ideologia, entenderam? Todas! No Brasil, a influência histórica e cultural que herdamos da senzala e da casa grande se reproduz nelas. E o Judiciário é o berço dos herdeiros da direita colonialista, até porque aqui na terrinha a profissão dos ricos sempre foi o direito e a magistratura desde os tempos idos. Os filhos dos grandes fazendeiros de outrora iam estudar na Europa o que? Direito. Era a profissão da elite. E não tinha para ninguém não! Quando Vargas introduziu no Brasil o capitalismo industrial, esses filhos de fazendeiros (advogados) começaram a fazer valer seus diplomas e muitos se tornaram políticos famosos. Aliás, para quem não sabe, a lista de presidentes da república advogados que tivemos é extensa. Dos 36 presidentes, contando com a presidenta Dilma, que tivemos até hoje, 21 eram advogados, 9 militares, nos restando somente 6 que tiveram outras formações. Tantos presidentes da república da área do direito e nosso país continua atolado na mediocridade jurídica. Uma justiça feita de apadrinhamento que ainda sobrevive. Os grandes escritórios de advogados em Brasília, são de filhos ou netos de ex-ministros do STJ e do STF. Furar esses bloqueios é muito difícil! O Judiciário reproduz o que existe de mais cavernoso na sociedade. Julgamento no STJ ou no STF é só para quem é inimigo político ou para quem não tem dinheiro para pagar. Agora mesmo enquanto o STF através do Ministro Joaquim Barbosa realiza um julgamento midiático dispensando provas, mascarando depoimentos e desrespeitando a Constituição Brasileira para convencer a sociedade que José Dirceu, Genuíno e o PT são corruptos, 260 mil processos estão parados em tribunais e fóruns do país à espera da definição do STF. E a sociedade espera... E isso se reproduz em cadeia. Também por isso, não é a toa que nosso sistema penitenciário é medieval. É mais interessante pagar altíssimos salários aos membros do Judiciário do que ter um sistema que de fato ressocialize as pessoas. Seria muito dispendioso! E as "pessoas de bem" não querem que "marginais" sejam soltos e possam "perturbá-las". Assim, é melhor tudo continuar como está, com os "meliantes" presos em cubículos junto com mais de 100 pessoas, sendo humilhados e achincalhados por todos. É melhor eles comerem comida estragada, fazerem suas necessidades em ambientes fétidos e serem maltratados. São "marginais" que merecem passar por isso. E os "jornalistas dos conflomerados midiáticos" fazem questão de corroborar o sentimento colonial dos elitistas: " - Bandido morto é melhor! Absurdo que tenham direitos humanos! Ninguém pensa nos direitos humanos das famílias que são perturbadas por esses seres vis?" E a polícia? A polícia é o que é! Igualzinho eram os capitães do mato no passado. Mal pagos para vigiar, punir, maltratar e carregar o fardo de serem odiados por todos. E para serem mortos também quando não servem mais aos objetivos de uns ou para vingança de outros. E quem são as pessoas que continuam indo para as prisões ainda hoje? Os pobres, os pretos e aqueles que defendem esses. E por quais crimes? Nem sempre esses crimes são crimes. Crime é a palavra utilizada para fazer calar a justiça. O julgamento é quase sempre feito pelo pessoal da Casa Grande, segundo suas concepções, ética e valores. Assim, lembro Zumbi... E continuo a pensar na justiça... Será necessário que refundemos alguns quilombos para a justiça funcionar? Ah, Zumbi queria muito que você estivesse vivo e pudesse nos defender... Os atuais Zumbis estão sentados em suas salas vendo televisão e pior, vendo o julgamento da AP 470 na TV Justiça. Pode isso? Será que um dia poderemos ter uma justiça de verdade? Ah, Zumbi! Obrigada por seu exemplo de luta e desculpe-me! Perdoe meu desabafo!

domingo, 28 de outubro de 2012

ELEIÇÕES E POLÍTICA PARA TRANSFORMAR A VIDA

A direita que irá perder as eleições hoje discursa e baba impropérios com relação à regulação da mídia em nosso país. Essa mesma direita que controlou por anos e ainda controla o que pode e o que interessa e o que não pode e o que não interessa ser veiculado pelos veículos de comunicação. Essa mesma direita que sempre usou o "caixa dois" de suas campanhas, que sempre contratou empreiteiras e empresas diversas para ganhar suas "caixinhas" e ter dinheiro para pagar benefícios aqueles que lhes favorecessem.  Interessante, não? Ah, uma outra informação, essa mesma direita também controlou por anos e ainda controla em alguns rincões desse nosso Brasil o que as crianças devem ler nas escolas, o que a escola deve ensinar e quais são aqueles que podem frequentar as escolas. São eles também que foram os responsáveis por muitos e muitos anos, pela degradação do ensino público, pelo achatamento do salário dos professores e pela transformação do ensino em um depositório de informações, sem reflexão, sem debate, sem sentido com a vida e com a política que é o agente transformador da vida. Sim, isso aconteceu por muito tempo e ainda acontece... Mas, eles não contavam com a teimosia de um grande líder, trabalhador e sindicalista, fundador do Partido dos Trabalhadores, nosso grande Lula, que não descansou enquanto não se tornou presidente da república e passou a imprimir no país um novo rumo. Esse novo rumo, nos últimos 10 anos trouxe o povo para um novo patamar de realidade. E com realidade não se brinca... O povo aprende com ela. Vários programas sócio-educativos desenvolvidos pelo Governo do PT que são aclamados no mundo como criativos e revolucionários que tiraram da miséria e da fome milhões de pessoas, continuam sendo combatidos e desqualificados por essa mesma direita que precisa manter seus privilégios a quem? O povo... Ah, o povo... A eles não interessa. A eles interessa desqualificar esse povo... Esse povo não sabe votar, não sabe escolher bem seus representantes... Não sabem??? Hoje, dia 28 de outubro é um dia de alegria! O PT, grande vencedor das eleições no primeiro turno, irá ganhar mais prefeituras de peso no segundo turno. E a direita??? Vai para o fosso! E o povo... Irá comemorar, mas, também, irá participar mais ativamente da vida política de nossas cidades e fará, com sua cidadania, essas prefeituras se tornarem verdadeiramente um instrumento de transformação da realidade. Sabemos também, que essa perda de poder da direita irá jogá-los como abrutes em cima do PT e de suas lideranças. A luta será encarniçada. Mas, o povo, o povo sabe o que é lutar... Sempre teve que fazer isso, sem descanso. Para os próximos dias, meses e anos, teremos muito o que fazer. Vamos precisar lutar pelo desenvolvimento e incentivo à Educação Básica com professores bem pagos conforme determina a lei do piso e um sistema de ensino qualificado e democrático, que forme alunos reflexivos e cidadãos. Vamos aprofundar a luta pela Regulação e Democratização da Mídia para que nunca mais tenhamos espetáculos midiáticos e informações mascaradas e enganosas tentando influenciar os cidadãos e a justiça. Vamos ter que buscar uma Reforma Política que crie mecanismos de  controle que desestimulem a corrupção e proporcionem a democratização do acesso a recursos para as campanhas políticas e a Reforma e Democratização do Judiciário, que continua sendo um depositório do discurso e interesse das elites e não do povo. Muito trabalho pela frente!!! Por hoje, vamos comemorar! O PT será o grande vitorioso dessas eleições! Amanhã é outro dia, e teremos muito mais trabalho pela frente. Avante povo marginalizado por tantos anos nesse Brasil! Avante! Estamos juntos!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A IDEOLOGIA DA JUSTIÇA

Algum tempo atrás ao disputar as eleições no sindicato do qual faço parte fui denunciada junto com outro companheiro à polícia. Na época inventaram várias coisas contra nós. O processo foi instaurado, tivemos uma primeira audiência e o Ministério Público nos disse que poderíamos pagar cestas básicas para acabar com o processo ali em primeira instância. Reagimos de maneira indignada e dissemos que não. Que o processo seguisse seu curso, pois, não éramos culpados e nos autos do processo isso seria provado. Depois de muito tempo, por "sorte" nossa e talvez porque não fôssemos conhecidos, a não ser para os trabalhadores que haviam nos dado quase 70% dos votos na eleição do sindicato, o processo foi arquivado. Mas, corremos um risco...  Tínhamos contra nós dois depoimentos, do ex-presidente do sindicato e de uma ex-funcionária. Segundo o STF isso valeria para nos condenar. Não é assim??? Fiz essa reflexão para fazer uma analogia com o que vemos hoje no STF. As pessoas acham que a Justiça é imparcial! Ledo engano! A Justiça tem lado! A estátua que retrata a justiça brasileira ao invés de venda nos olhos deveria ter um "tapa olho". Sim, igual aquele que os piratas usavam. Tantos processos com tantas provas evidentes que o STF não julga... E os processos "recheados" de provas não chegam nem a ir para o STF pois o Procurador Geral da República já "mata" a denúncia no início. Interessante como algumas pessoas ainda acham que temos um judiciário sério... Como se o judiciário vivesse à margem da sociedade colonialista em que vivemos e não fosse ideologicamente comprometido. Vejam o Stepan Necerssian... Que diferença ele tem para os outros? A "sorte" dele é ser do PPS, base do PSDB que manda no PGR e no Supremo. Aliás, esse mesmo Supremo que soltou o assassino de Dorothy Stang! Esse mesmo Supremo que concedeu liberdade para Daniel Dantas! Um Supremo que julga segundo seus interesses e conveniências pessoais e políticas... Quero ver o que vão fazer depois de tantas provas encontradas nessa CPI do Cachoeira. Será que vai para frente? E a CPI da Privataria Tucana, com tantas provas, nem se fala! O livro do Amaury sendo finalista do Prêmio Jabuti e insistem em dizer que o que está ali é irrelevante, não vale??? Investigação detalhada recheada de documentos não vale como prova??? É muito nojento... Aliás, não se tocou no STF nas gravações de Policarpo, Cachoeira e Demóstenes, todos afirmando em várias conversas que queriam ferrar o Zé Dirceu e apontando inclusive as mentiras do Jefferson e o que foi "armado" pelo Demóstenes e pelo Policarpo da Veja para "acabar" com Dirceu. Isso não vale como prova??? Gravações feitas com autorização da Justiça??? Aff, é revoltante e tremendamente injusto! Acordem ingênuos de plantão!!! Acordem!!! Nosso judiciário é o reflexo da injustiça e da desigualdade social que ainda assola nosso país!!! Sua ideologia é a da senzala e da casa grande! Se queremos que a democracia seja realmente um valor a ser respeitado em nossa sociedade temos que nos insurgir contra essa barbaridade feita no processo 470 chamado pela imprensa golpista de "mensalão". Daqui há algum tempo o Supremo vai nos julgar também e vai dizer que cometemos crimes que não cometemos e nada poderá ser feito, pois, quando estiver acontecendo com todos nós, aí sim, será sinal que voltamos ao tempo da bárbarie e poderá ser muito pior para nos inssurgirmos...

domingo, 23 de setembro de 2012

POR UMA JUSTIÇA COM JUSTEZA

Fiquei pensando em como esse título poderia provocar debates e reflexões sobre o assunto. Afinal, justeza não é a mesma coisa que justiça? Claro que não. No dicionário se você verificar o significado das duas palavras, verá que Justiça tem várias denominações: prática e exercício do que é de direito, conformidade com o direito, rectidão, poder judicial, lei penal, punição jurídica. Já Justeza está diretamente ligada ao que se faz na e da Justiça e tem os seguintes significados: qualidade do que é justo, exactidão, certeza, precisão, conveniência, propriedade. Assim, é importante que possamos pensar sobre a Justeza da Justiça, e o que tem sido feito pela Sociedade Civil e pelo Poder Judiciário para que a Justeza se faça sentir no cotidiano de todos nós. Tenho muitas experiências com a Justiça. Ao longo dos últimos 12 anos vi muitos trabalhadores e trabalhadoras precisando dela para solucionar problemas criados por seus empregadores e os resultados nem sempre foram satisfatórios. O poder de barganha do patrão em relação ao trabalhador passa pela visão colonialista dos magistrados que se acreditam "Deuses" das decisões. Assim, muitas provas são descartadas ou classificadas como não importantes em processos a favor dos trabalhadores. E muitos anos se passam sem que o trabalhador tenha garantias de que a justiça será feita para e por ele... Se isso acontece na Justiça Trabalhista, quiçá nas outras Justiças... É por isso, que não é surpresa quando o Supremo Tribunal Federal e seu Relator Joaquim Barbosa age da forma que vem agindo na Ação Penal 470, que por obra da mídia golpista desse país passou a ser chamada de "Mensalão".  Afinal, a crença de que são "Deuses" neles é superlativamente maior que nos outros juízes. Com a ajuda da imprensa fornecendo estímulos subjetivos à sua vaidade e disseminando sentimentos de aprovação coletiva à sua conduta como "Defensor da Moral e dos Bons Costumes" não haveria como não sucumbir. A defesa da Constituição Brasileira, a apreciação de provas sérias e contundentes, a consideração de no caso de dúvida inocentar os réus, não são maiores do que a oportunidade de ser glorificado como "Expoente Maior" da Justiça Brasileira, num processo que não é tão importante quanto outros, mas, que a Mídia valoriza como tal. Os brasileiros tem fome de Justiça, mas, a grande maioria sequer conhece seus direitos. Vários destes direitos são desrespeitados todos os dias pela própria Justiça! Muitos estão trancados nas prisões grotescas e desumanas desse país por crimes praticados por algozes, "autoridades" fascinadas por "apresentar serviço", forjando provas e situações. Se nem todos sabem, o preconceito deita suas raízes na falta de justiça. A grande maioria dos presos de nosso sistema penitenciário são pretos e pobres. Agora vemos aqueles que sempre defenderam essa parcela grande e injustiçada da população serem execrados pela mídia e o Judiciário se curvando a isso. Se o julgamento desse processo pode ter alguma qualidade, é essa, de evidenciar a egolatria dos Juízes e a consequente falta de Justeza da Justiça. Cabe a nós, da sociedade civil lutar para dar um basta a isso! A Justiça e todos seus funcionários públicos, inclusive os Magistrados de qualquer instância, devem estar a serviço do povo. Chega de protecionismo colonial! Precisamos de uma Justiça que seja justa de fato e a luta por ela deve permear nossas ações todos os dias. Chega de golpismos! Temos que ter uma Justiça de todas as cores no Brasil! Uma Justiça com Justeza!

domingo, 16 de setembro de 2012

OS INTERESSES DE CLASSE E O ÓDIO QUE SE CULTIVA

Parodiando nosso Presidente Lula,  nunca na história desse país tivemos um momento tão prodigioso para o estudo do evidenciamento do "ódio de classe". Não sei se todos já ouviram a mesma coisa que ouvi em minha infância, mas, acredito que essas frases tenham sido repetidas em vários lugares como um mantra colonial. "O Brasil é o coração do mundo! O Brasil é o celeiro do mundo! O povo brasileiro é solidário e cordato! O povo brasileiro é pacífico! Aqui no Brasil não existem conflitos de classe!" Seria ótimo se fosse verdade! Quem teve a oportunidade de estudar e pesquisar a história social e política de nosso país, sabe que essas frases eram repetidas para manter a colonialidade do poder preservada, fora do alcance do povo. A história violenta e sofrida do povo brasileiro só veio à tona a partir de 2003, quando mudanças de rumo foram empreendidas pelo PT e pelo Governo Lula à frente do país. Foi ali que houve um divisor de águas! A esperança venceu o medo de fato! E o que se viu foi a implantação gradual de um novo projeto para o país. O PT chegou ao Governo e conseguiu fazer muitas coisas pelo povo, ainda que, reconhecidamente, não tenha conseguido mudar o sistema político que funciona de forma corrompida e atendendo aos interesses coloniais das elites desde que o Brasil foi invadido por Portugal. E foi a partir daí que se pode evidenciar as diferenças de classes. Foi a partir daí que se pode perceber que, na verdade, os interesses da classe dominante até então eram muito mais fortes do que ela queria demonstrar. Foi aí que caiu a sua máscara definitamente. Lula e o PT também conseguiram isso. Tirar a máscara da elite e tirar os véus que encobriam os olhos do povo a respeito de seus direitos e suas possibilidades enquanto cidadãos. É claro que isso não poderia ficar impune aos olhos deles. Como permitir que mulheres, negros, homossexuais, tenham direitos? Como suportar a revelação de que no Brasil tem racismo, tem machismo, tem corrupção, tem violência, tem desigualdade de classes, desmascarando o que eles sempre afirmaram? Como aguentar as evidências de que eles encobriram tudo isso e foram diretamente responsáveis pela manutenção desse estado de coisas na sociedade brasileira? Os anos de ditadura militar foram responsáveis em manter nossa subjetividade escrava do colonialismo eurocentrista e FHC cultuou isso aos extremos, tirando de nós tudo que tinhamos construído a duras penas. Sempre pensamos que nossa civilização se apoiava no que vem de fora. Aí, o PT chegou ao Governo e Lula diz que nós podemos mais, passando a dar lições de civilidade e democracia ao mundo! Dilma, sua sucessora, começa a construir um Governo de liderança onde o Brasil é exemplo! Todos os três governos desde 2003 voltados específicamente para o povo. O que a classe dominante poderia fazer? Criar intrigas, fofocas, disse me disse, espalhar boatos, disseminar calúnias, mentiras, provocar dissensões e divisões, comprar pessoas a peso de poder e dinheiro, usar todos os subterfúgios possíveis para ganhar adesão ao seu projeto de poder. Buscar dentro das instituições da sociedade civil, de uma forma geral, pessoas ingênuas, pessoas fracas politicamente, pessoas interessadas em projetos pessoais acima dos interesses coletivos, para poder defender seu projeto. Derrubar a liderança do PT e alijá-la do poder para poder continuar perpetuando as condições que até 2002 se mantinham. Assim, estamos vendo esse ódio de classe ser cultivado. Nas ruas, nas instituições, nos lares, nas redes sociais. Muitos cegos e surdos pela matrix colonial desenvolvida pela elite que quer preservar seus interesses, vociferando, xingando, violentando, massacrando quem quer esclarecer os fatos, dialogar e informar sobre a realidade. Tudo isso com a ajuda sempre presente da mídia golpista, que sempre esteve ao lado deles. A verdadeira face da classe dominante está exposta na sociedade e cabe a nós expô-la cada vez mais. Chegou a hora! Não podemos deixar que isso se dissemine. O Governo Dilma precisa intervir nesse estado de coisas. O PT chegou ao Governo! Precisa agora ter definitivamente o poder de construir uma nova realidade para o nosso Brasil!

domingo, 2 de setembro de 2012

POLÍTICA, AMOR E REVOLUÇÃO

Pela primeira vez, depois de 51 anos de existência nesse mundo, desde sexta-feira estou sozinha em casa, sem a presença de filhos, netos, mãe, pai ou qualquer pessoa que tenha feito parte de minha vida todo esse tempo. Confesso, que tive um pouco de receio de como iria reagir... Ao longo dos anos minha vida sempre foi povoada de gente, as inúmeras gentes que fizeram parte do meu mundo... Um dia ainda escrevo sobre as histórias dessas gentes... Sim, durante 18 anos a casa onde morei em São Gonçalo/RJ vivia sempre cheia de pessoas, ora procurando abrigo para comer e dormir, ora querendo uma solução para seus problemas, ora buscando trabalho ou uma palavra amiga... Não tinha tempo para mim! Tinha que trabalhar, cuidar de quatro filhos, fazer faculdade, administrar o trabalho comunitário que eu e meu ex-companheiro fazíamos e isso trazia várias preocupações, ocupações e problemas. Tínhamos sonhos e os nossos sonhos atravessavam os sonhos de outras pessoas. Nossa casa era um entre e sai constante de crianças, jovens e mães exploradas e sofridas da comunidade. Meus filhos faziam parte disso, assistiam a tudo e ajudavam como podiam, na sua inocência infantil. É claro que isso contribuiu com sua educação de alguma forma. Naquele tempo eu não tinha tempo para pensar sobre aquelas experiências. Minha ida para a faculdade, acredito, foi, talvez, para preencher essa lacuna. E foi refletindo sobre isso que chego até o meu momento de hoje. A solidão de minha alma me transporta para além desse tempo! Consigo ver que toda minha trajetória até aqui continua se fazendo pelo sonho político de transformar o mundo, a realidade, a vida das pessoas... Agora com outro arcabouço de idéias e conhecimentos. Se antes tinha medo da solidão, agora ela está comigo! E ela não é bicho feio não! É necessária e importante para que possamos refletir e apreender a realidade e fazer de nossa prática, práxis. Temos que ter tempo para isso! Assim como temos que ter tempo para dançar, ouvir música, ler, brincar, namorar... O amor é uma força revolucionária que revigora, refrigera, energiza, dá força e poder. Quando Paulo Freire disse sua antológica frase: "Os homens aprendem em comunhão" ele se referia a amorosidade desse momento, único, verdadeiramente humano, de conexão das almas entre si. O verdadeiro revolucionário tem muito amor dentro de si e é essa força que, apesar de todos os impecilhos, agruras e até mesmo a solidão que possa ter em seu trabalho revolucionário o faz ir em frente. Minha solidão está me possibilitando coisas que antes não tinha... Apesar do meu estranhamento num primeiro momento, ela fez por mim algo que ninguém poderia fazer, me colocou de frente comigo mesma! Assim, pude ter a certeza maior do meu amor pela vida, pelo parceiro carinhoso e admirável que tenho hoje, pelo trabalho político e pelas diversas gentes que atravessam meu caminho e que ainda atravessarão, além dos meus filhos e netos. Política e revolução não se fazem sem amor! Hoje tenho certeza disso! Estou só e muito bem acompanhada!

domingo, 26 de agosto de 2012

A RAIVA MUDA VOCÊ E O MUNDO!

Estou muito triste hoje! Mas, também estou com muita raiva! Esses dois sentimentos amaldiçoados por muitas pessoas são minha força para ir em frente. Tenho aprendido muito com eles. São eles que me fazem produzir, escrever, agir. E depois que eles me movem, em ebulição, na construção das reflexões e soluções dos problemas, uma onda de alegria e regozijo me assaltam e eu sinto prazer, contentamento e um grande poder realizador. Quando eu era criança sentia dentro de mim o desejo de mudar o mundo! Hoje sei que o mundo não pode ser mudado sem que eu mude! Sei também que nenhum ser humano que convive comigo pode mudar sem que eu mude. E também aprendi que eu não posso mudar ninguém sem que a pessoa queira mudar. E compreendi que as pessoas mudam em comunhão umas com as outras. É verdade... Entendi que o nosso "doce e fraterno" mundo capitalista colonial nos ensinou a querer controlar as coisas, como se cada ser humano fosse somente um tubo de ensaio num laboratório. Assim, passamos a vida acreditando que valores e sentimentos seriam ingredientes desnecessários, pois, por serem fundamentalmente humanos, não caberiam na experiência controlada. Ah, que bom saber que não é assim! A cada momento a vida surpreende a cada um de nós, com uma dinâmica e movimentada crise. Sim! Crise! Há quem acredite que as crises são elementos perniciosos que nos fazem sofrer... Tenho aprendido que não, pelo contrário, elas nos fazem crescer. Mas, para isso é necessário entender o que elas representam. Exige reflexão, análise, uma profunda observação sobre o sentido de nossa presença na vida. As crises nos fortalecem para novas vivências, transformam nossas crenças e nos abrem os olhos para a eficácia dos resultados de nossas ações. Tenho sido instigada por várias crises em minha vida! Elas tem me obrigado a conhecer, observar e refletir, mantendo ou mudando meus pontos de vista e meu modus operandi. Triste ver tantas pessoas passando pela vida que apesar das crises não conseguem fazer isso, presas que estão numa Matrix Colonial que usando-as, faz delas cachorrinhos amestrados. Essas pessoas fazem e pensam as mesmas coisas todos os dias. O Sistema quer que elas continuem assim! Ainda assim, de geração em geração não há como pensarmos em mesmice. Cada geração tem tido suas crises e tem aprendido e mudado com elas. Avalio que a atual geração está passando pela maior crise de identidade e de valores da história da humanidade. Uma sacudida revolucionária que está desmoronando muros coloniais até então nunca mexidos. Salve a América Latina! O berço dos Incas, dos Maias, dos Guaranis estão acordando o mundo. E tomara que cada vez mais pessoas acordem do sono vampirizador imposto pela epistemologia colonial civilizatória. Que nós possamos aprender mais de nossa humanidade deixando de desprezar histórias, vivências, experiências e sentimentos em detrimento do pensamento único que até então vem dominando nossa subjetividade. Um novo mundo é possível? Todos nos perguntamos de vez em quando... Depende de nós, de nossas ações hoje! Então, exija mais de sua tristeza e de sua raiva. A força delas está na qualidade com que usamos essas emoções em nossa vida! Use-as para mudar você mesmo e o seu cotidiano! Assim, mudaremos o mundo!

sábado, 11 de agosto de 2012

AO MEU PAI COM CARINHO!

Meu pai se estivesse entre nós iria fazer 87 anos. Vai fazer dois anos que ele morreu em outubro desse ano. Parece que foi ontem!  Meu pai era um homem cheio de problemas e contradições. Ele e minha mãe tiveram uma vida em comum esculpida num mar de hipocrisia. Não posso julgá-los. Fizeram o melhor que puderam num mundo que não lhes concedeu muitas oportunidades e lhes tolhiu as experiências. O que fazer diante de um sistema que estimula a mentira e a falsidade? Nosso sistema colonialista e capitalista sempre defendeu a hipocrisia e meus pais sofreram sua influência, como muitos de sua época. Mas, nessa véspera do dia dos pais me refiro a meu pai para me lembrar de coisas bonitas que aprendi na minha infância. Meu pai era um músico apaixonado pela música brasileira. Adorava chorinhos, sambas, valsas, marchas... Tocava violão, cavaquinho e bandolim, esse último foi o instrumento em que se notabilizou nos conjuntos que tocou. Ele me inspirava a cantar e cantei com ele algumas vezes em suas serestas. Ele ficava todo orgulhoso, mas, naquela época confesso que não dava tanto valor a isso. Eu gostava de cantar de tudo um pouco e cantar com ele não era tão interessante para mim, pois, as músicas que ele tocava não eram de minha geração! Eu era fã dos festivais e das músicas de Chico Buarque, Milton Nascimento, Elis Regina e muitos outros dessa época tão conturbada da história do Brasil. Durante as férias da escola vinha sempre para a casa de meus avós e brincava com minhas primas de Festival da Canção (uma imitação aos festivais da canção da época) e, sempre era intitulada a vencedora no final. Era engraçado! Tinhamos um gravador e gravávamos as canções, cada uma com sua interpretação. Eu mesma era a apresentadora, era a jurada e era uma das cantoras que disputava. Não tinha para ninguém!!! Meu avô de vez em quando dava um "pitaco" como julgador... As músicas dos festivais tomavam formas diferentes em nossas vozes de crianças apaixonadas e ingênuas. E meu pai sorria e me incentivava. Foi por causa do meu pai que fiz cinco anos de aulas de piano e cheguei a compor algumas músicas. Foi instigada por ele que atuei no teatro e nos show´s das várias escolas que frequentei. A arte entrou na minha vida, porque de uma certa forma tive bastante contato com ela através do meu pai. Depois, joguei tudo fora, na rebeldia de meus 15 anos, parei com a música, parei com o piano e fui viver minha vida, longe dele e de sua influência musical. Mas, a arte nunca saiu de dentro de mim. Nem havia como! O que ele estimulou já estava dentro de mim desde meu nascimento. Hoje, lembro desse período de minha vida com saudade. Penso no quanto aprendi nos últimos tempos, e o quanto ainda preciso aprender. Meu pai não foi um homem perfeito! Quem o é? Sua grande influência em meus dias hoje se expressam no meu amor pela arte, pela música, pela dança, pelo teatro... Obrigada papai, ainda que tardiamente pelas oportunidades que me deu de conhecer músicas, autores e danças. Obrigada! Amanhã, dia dos pais, ouvirei um chorinho de Jacob do bandolim e farei um minuto de silêncio por você e no final direi com orgulho: Wilson Pereira Deslandes, PRESENTE!

domingo, 22 de julho de 2012

AS IDEOLOGIAS QUE ENSINAMOS ÀS CRIANÇAS...

Hoje, fiquei tentada pelo meu filho de 25 anos a escrever sobre a consciência política e os valores das novas gerações. No caso, as nossas crianças e os nossos jovens e adolescentes. Sou mãe de quatro filhos e avó de dois netos. Fora isso, sou sindicalista e professora! Além disso, promovo um projeto cultural de dança voltado a jovens e adolescentes. No bojo de tudo isso o que estou tentando fazer é empreender esforços para que crianças e jovens possam ter uma educação de qualidade. A qualidade não da informação, que isso hoje existe aos borbotões, de várias nuances e com vários significados, mas, a qualidade da formação política, da consciência cidadã, a educação descolonizada, que nos falta a muitos. Meus professores universitários foram importantíssimos para ajudar a despertar em mim o que já existia desde tenra idade, mas, meus professores da escola básica, esses, foram fundamentais junto com meus pais a me incutir os valores e crenças sociais. Daí, entendo por que os professores da escola básica são tão desvalorizados em seus salários pelos Governos. São eles que irão padronizar as mentes e corações nas crenças despolitizadas, colonizadas e subalternas através das inúmeras mensagens e ensinamentos que se produzem nas escolas. E serão apoiados pelas famílias que produzem em suas casas as mesmas mensagens e os mesmos conhecimentos. Ou não! Daí os conflitos... Mas, voltando ao meu filho, que foi quem me provocou a fazer esse texto, reproduzo aqui a história que ele contou a seu filho, meu neto, dos Três Porquinhos. Confesso que fiquei orgulhosa da inovação dele e vivenciei de outra forma (como se não soubesse) a responsabilidade que os pais tem nas crenças dos filhos. "Era uma vez um lobo solitário que queria muito ter amigos. Nas suas andanças procurando um amigo encontrou um porquinho que vivia numa casa de palha. O porquinho olhou o lobo pela janela e ao ver sua aparência, preto, alto, forte, uma boca enorme e cheia de dentes, ficou desconfiado e não abriu a porta. O lobo gritava para o porquinho. Eu quero ser seu amigo! Eu quero ser seu amigo! E de tanto gritar e por ser forte e grande, a força de seu grito fez desmoronar a casa de palha do porquinho que já estava discriminando o lobo por sua aparência, mais assustado ainda ficou e fugiu. O lobo foi atrás do porquinho gritando: Eu quero ser seu amigo!  Eu quero ser seu amigo! O porquinho entrou na casa de madeira de seu irmão e lá ficou. O irmão do porquinho olhou o lobo e julgando-o como seu irmão pela aparência não abriu a porta! O lobo continuou a gritar: Quero ser seu amigo! Quero ser seu amigo! E de tanto gritar e seu grito era forte, derrubou a casa de madeira do irmão do porquinho, que abrigava os dois porquinhos que também não tinha alicerces como a casa de palha. Os dois porquinhos fugiram para a casa de tijolos de seu outro irmão e o lobo foi atrás, sempre gritando: Eu quero ser seu amigo! Eu quero ser seu amigo! O terceiro irmão também discriminou o lobo pela sua aparência e não deixou ele entrar na casa. E o lobo continuou gritando. Depois de algum tempo, começou uma chuva torrencial. E o lobo lá fora gritando: Eu quero ser seu amigo! Só então, os porquinhos admirados pela constância do lobo em continuar ali gritando na chuva, resolveram sair para saber o que ele queria. Ouviram então o lobo emocionado dizer: Eu quero ser seu amigo! Juntos podemos mais! Ainda desconfiados, chegaram perto do lobo, que todo molhado os abraçou e só então, só então mesmo, eles deixaram o lobo entrar na casa. E dali em diante lobo e porquinhos se tornaram amigos inseparáveis cada um fazendo o que sabe para tornar a vida na floresta um pouco melhor." Vou restringir aqui os comentários do meu filho com o filho dele a respeito da história. Pois, ele tece comentários junto com o texto. Ah, esse meu neto só tem 10 meses. Mas, segundo ele presta muita atenção a história e só dorme quando ele termina. Vou restringir também meus comentários. Vocês leram a história e podem tirar suas conclusões! A consciência política começa desde pequenino.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A POLÍTICA NOSSA DE CADA DIA...

Resolvi falar sobre sobre política a partir de um jargão afirmado por muita gente: Política e Religião não se discute! Acho muito interessante essa afirmação. É fácil dizer isso para fugir dos debates e discussões que fazem com que nossa mente trabalhe, pense e reflita. Essa afirmação sempre provoca em mim uma ânsia provocativa. Afinal, a ação política tem em sua essência mil e uma possibilidades que irão de alguma forma provocar mudanças na sociedade. Então por que tantas pessoas usam esse jargão como desculpa para não fazer nada? Por que as pessoas dizem que não gostam de política? A questão bate num princípio maior. É mais fácil criticar quando não participamos do processo. A participação no processo implica conhecer todas as nuances e problemas do mesmo. E nem tudo são flores! As decisões a serem tomadas nem sempre serão as que queremos, mas, as que podem ser tomadas! A realidade não é cor de rosa! Fico vendo pessoas dando opiniões unilaterais e simplistas sobre eleições, partidos, candidatos, sindicatos, dirigentes e penso. O que será que aquela pessoa faria se estivesse no lugar desse que ela critica, conhecendo toda a realidade que ela não conhece? Agiria diferente? Teria alguma coisa a acrescentar? Esses dias, durante uma conversa informal tive um debate com alguns sindicalistas sobre a participação do sindicato na política. Alguns deles me diziam não concordam que o sindicato se envolva com política e que a lei proibe a doação a políticos. De fato, existe a lei 9.096 de setembro de 1995 que regulamenta os partidos políticos que proíbe que os sindicatos e entidades de classe façam doações. O interessante é que essa mesma lei facilita a doação das empresas ao fundo partidário dos partidos. Elas podem participar com  2% do faturamento bruto do declarado à Receita Federal do Brasil no ano anterior à eleição. Ou seja, aqueles que detêm o poder do capital, podem fazer doações e participar da política e nós, do sindicato, somos legalmente proibidos. Só isso já torna a relação Capital X Trabalho na sociedade totalmente desigual. Se eles podem ficar a vontade para patrocinar seus candidatos, por que os trabalhadores não podem? É injusto! Mas, quem disse que a sociedade é justa? Estamos numa sociedade capitalista que converge seus interesses para ela mesma. É por isso que precisamos de uma REFORMA POLÍTICA! Dessa forma, a nós trabalhadores cabe convergir para eleger nas próximas eleições somente trabalhadores e trabalhadoras que estejam comprometidos com as nossas lutas. Não temos o poder do dinheiro, mas, temos o poder do VOTO. Prefeito e vereadores são aqueles que mais próximos estão de nós, de nossas necessidades mais preementes, aqueles que podemos cobrar com mais facilidade e estar com eles mais frequentemente. Vote com consciência e exija na sua cidade que o prefeito faça um Planejamento Participativo. Faça com que seu vereador seja atuante, que visite os bairros não somente em tempo de eleição. Eles agem assim, porque nós deixamos! As obras acontecem próximas das eleições porque durante três anos do mandato do prefeito e/ou vereador, nós também não nos envolvemos. E por que fazemos isso? Para poder reclamar depois! Para criticar, que é sempre mais fácil! Faça diferente nessas eleições! Envolva-se! Ajude a melhorar sua cidade! Não deixe isso por conta somente de seus representantes. Eles não podem tudo e nem conseguem tudo! Mas, com o nosso apoio, nossa participação e fiscalização eles poderão fazer muito mais! Essa é sim, a política que podemos construir no cotidiano. Não precisamos mais da bengala da reclamação nem da chupeta da falação! Vamos à luta! Seja verdadeiramente um cidadão e uma cidadã de sua cidade!

sábado, 23 de junho de 2012

TRABALHADORES DA AMÉRICA DO SUL UNI-VOS!

Estava em casa sozinha depois de um dia intenso de trabalho quando comecei a receber pelo twiter e facebook as informações sobre o Golpe de Estado no Paraguai. Meu coração e minha alma voltaram num tempo e num espaço não tão distante, mas deixado de lado por alguns, não reconhecido por outros e sentido por muitos - 1964!  Eu tinha somente três anos nessa época e na minha ingenuidade infantil pouca coisa absorvia. Meus pais pouco falavam! Me lembro de minha mãe ficar assustada comigo ao me ver subindo no caixote que ficava no banheiro de nossa casa para me olhar no espelho. Fiquei naquela posição durante muito tempo e ela então me perguntou o que eu estava fazendo e eu lhe respondi que naquele momento eu sentia que tinha nascido de verdade... Confesso que nem sei porque disse aquilo naquela hora, mas, o fato é que cresci e passei a renascer todos os dias. É isso que fazemos sempre. Renascemos! Muitas coisas descobri... Meu tio que era operário na CSN nessa época enfrentou a ditadura. Ele foi preso e sofreu várias dores e constrangimentos. Mas, o maior deles, acredito, foi ver o rosto triste de seu filho de apenas dois anos indo vê-lo na cadeia. Depois daquele dia, meu primo, que era uma criança como outra qualquer se fechou e até hoje vive no seu próprio mundo de autista. Uma pena! Sinto saudades do meu tio! Ele faleceu tem dois anos! Foi o primeiro dos três irmãos de minha mãe a ir embora. Era com ele que podia conversar e debater política! O único com quem podia falar sobre o assunto na família! Não posso dizer que tenha sofrido com o Golpe Militar no Brasil! Além de pequena, meus pais me protegiam de toda forma! Mas, o renascimento de todos os dias faz coisas e um belo dia sai de casa e fui viver no mundo! Tive o privilégio de morar durante muito tempo na casa desse meu tio querido! E aprendi muito! Pude participar da verdadeira história e não da história construída para nos manipular. Quem não sentiu na pele o que foi a ditadura de 1964, quem não viveu aquele tempo, não sabe e não conhece o sentido das coisas. Ao ver o Paraguai passando por essa situação me lembrei de um Brasil não muito distante onde o povo não tinha vez e sofria relegado a pobreza e a fome em nome dos interesses dos poderosos que sempre tiveram vez acobertados pela mídia e pelas forças militares e policiais repressoras. Muitos morreram e sofreram barbaridades nesse tempo. A Comissão da Verdade está aí para mostrar, e não é a toa que muitos se inssurgiram contra ela. Toda tentativa de desmascarar o colonialismo sempre sofreu represálias. Não podemos permitir um retrocesso. Os trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo estão começando a entender a importância de sua união uns com os outros! Temos que convergir para a urgência de nossos problemas! Se Marx estivesse vivo hoje diria: Trabalhadores e trabalhadoras da América do Sul, uni-vos! Vocês são a esperança de um mundo novo! Somos sim! E vamos lutar para que esse grande continente continue sua viagem de volta para sua verdadeira identidade!

sábado, 26 de maio de 2012

SUBDESENVOLVIMENTO E REVOLUÇÃO

Recentemente recebi a notícia de que o Instituto de Estudos Latino-Americanos - IELA, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, irá editar a coleção Pátria Grande, Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano, que terá 40 volumes, todos editados pela Editora Insular, de Florianópolis. O primeiro volume dessa coleção será o livro “Subdesenvolvimento e Revolução”, do mineiro Ruy Mauro Marini, publicado originalmente no México em 1969. Aqui no Brasil essa obra foi marginalizada e combatida pelos representantes da ditadura militar e por representantes da hegemonia liberal, entre eles o professor sociólogo e político FHC, que fizeram de tudo para expurgar do país o pensamento de Marini. Por conta disso os livros dele foram editados em vários países do mundo, menos no Brasil. Fiquei feliz com essa iniciativa da UFSC, pois, há algum tempo queria ler essa obra. Agora, com certeza vou ter acesso a ela.  Mas, a minha alegria é ainda maior, quando vi a UFSC se embrenhar com seriedade nos estudos latino-americanos e que irá editar mais 39 obras, além da de Marini, sobre o pensamento reflexivo dos povos latino-americanos. Quando fiz meu mestrado na UFF, por iniciativa de uma de nossas professoras, fui pesquisar autores latino-americanos e me apaixonei pelo pensamento de Walter Mignolo, Enrique Dussel e Anibal Quijano, autores sul-americanos que as universidades brasileiras desconheciam e faziam questão de ignorar. Nasci em 1961 e fui para a escola pela primeira vez em 1967. Em todos os meus anos de escola até o segundo grau nunca tinha escutado falar da América do Sul, de nossos vizinhos sul-americanos. A história do Brasil, deturpada e invisibilizada na escola, a história da América Latina, totalmente proibida, desconhecida de todos nós, a história dos povos africanos, negada, subalternizada. Nos livros de história brasileiros o que nos era ensinado era a história dos colonizadores. A civilização européia e todos os seus conceitos de civilidade, educação, cultura, trabalho e vida cotidiana formou nosso pensamento, excluindo todo pensamento diferente e divergente que pudesse existir. Assim, nos formamos! Somos o efeito disso! Nossa política e nossa economia foram durante anos o resultado dessa lavagem cerebral. Faz muito pouco tempo, nosso povo tinha vergonha de ser brasileiro. Achávamos que tudo que vinha de fora era de melhor qualidade. Vivíamos de cabeças baixas, rezando para que o dia seguinte fosse melhor. E mesmo assim acreditávamos a partir das várias campanhas feitas pela elite brasileira que o Brasil era um país amistoso, de pessoas não violentas, que não tinha racismo, que não tinha guerras nem desastres naturais. Lembram disso? Quem nasceu na década de 60, 70 e 80 com certeza ouviu algumas dessas bobagens manipulatórias. Há, também diziam que éramos o país do futuro, apesar de estarmos o tempo todo atolados em nosso subdesenvolvimento. A partir de 2002 com a eleição de Lula da Silva renovamos nossa auto-estima e iniciamos uma verdadeira revolução. Em 10 anos houve uma mudança significativa na área social, nas relações de trabalho, na área econômica, na área política e na relações internacionais. O povo brasileiro está se passando a limpo! O que poderíamos esperar? Que todos nossos problemas fossem resolvidos? Problemas que vem desde nossa colonização? O clientelismo, a corrupção, a hipocrisia, o moralismo, a subalternidade são valores que importamos do colonialismo civilizatório que nos moldou. De onde veio a vontade de tirar vantagem de tudo? Será que ainda pensamos que esses valores nos pertencem? Na verdade nossa subjetvidade herdou essas porcarias civilizatórias da Europa e EUA. Não tivemos tempo nos últimos 500 anos de nos apropriarmos de nós mesmos, de nossa história, de nossa própria forma de pensar e agir, de nossa civilização pensada a partir de nossas necessidades, de nossa diversidade e não dos outros. A importância do que foi feito  nos últimos dez anos não pode ser desprezada. Somente agora temos a possibilidade de nos assumir e nos reiventar. A prova disso é a proximidade cada vez maior que estamos tendo com países da América do Sul e da África. Não podemos esquecer os processos de assunção de nossa verdadeira história, que estão sendo expostos, por exemplo, pela Comissão da Verdade. A edição do livro de Marini será um marco. Um marco patrocinado pela UFSC, mas, com certeza, irá influenciar outras universidades no sentido de buscarmos nossa própria identidade intelectual sem as injunções colonizatórias que até hoje sobrevivem em nosso mundo acadêmico. Talvez demore um pouco mais. Talvez leve um pouco menos para tirarmos o ranço eurocêntrico e liberal de nossas escolas. Talvez levemos mais duas ou três gerações para ter o Brasil que sonhamos! Mas, ele está a caminho... Mais do que qualquer coisa, precisamos extipar de nós a ganância e arrogância intelectual e cultural que aprendemos. Convoco todos os educadores a refletir sobre isso...

sábado, 12 de maio de 2012

SOBRE TRABALHADORES PARA ALÉM DO SEU DIA...

Não fiz nenhuma postagem no dia do trabalho. Esse ano, diferente dos demais, no dia do trabalho não pude ir a nenhuma manifestação sobre o dia. Choveu muito! Confesso que, o meu lado sensível e poético interpretou a chuva nesse dia. A natureza chorou no Rio de Janeiro em homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras. Talvez porque aqui no Rio sejamos, como alguns dizem, o tambor de percussão para o resto do Brasil e assim, o céu resolveu mandar a chuva torrencial para mostrar sua indignação e apoiar todos nós. Sempre me pergunto o por quê comemoramos o dia do trabalhador... Não vejo o dia 1º de maio como um dia para comemorar. Procuro entender a razão de muitos sindicatos e de centrais sindicais para promoverem festas nesse dia. O dia a dia de um trabalhador é por vezes tão degradante e sofrido, que as festas são a única forma deles lavarem sua alma e se sentirem unidos e importantes. Muitas pessoas dos movimentos sociais não entendem a necessidade do lazer e do divertimento! Ela é necessária, principalmente no mundo de hoje tão marcado por relações artificiais! Nas festas as pessoas se relacionam, se conhecem e se abrem como não fazem em nenhum outro lugar. Mas, apesar de respeitar e entender, como já disse, me incomoda a comemoração. Vejo o dia do trabalhador e da trabalhadora como um dia para denunciar... Assim, escolhi mostrar aqui meus sentimentos de admiração e respeito pelos trabalhadores gaseiros (que trabalham nas empresas distribuidoras de botijões de gás), numa forma de purgar minha indignação e minha fome de transformação social. Fui visitar de perto a produção de uma dessas empresas e observando cuidadosamente o trabalho pesado, perigoso, meticuloso, cansativo e repetitivo imposto a eles, entendi de uma vez por todas a diferença entre CAPITAL X TRABALHO. Não há como pensar as condições de vida desses trabalhadores sem refletir sobre a subalternidade subjacente às suas condições de trabalho. As formas de trabalho refletem os padrões da colonialidade do poder e se subordinam a critérios periféricos, capitalistas e racistas. Assim, não é por acaso que o trabalhador gaseiro, em sua maioria é negro, em condições escolares deficientes e por isso mesmo submetido a formas de trabalho penosas. Vocês sabiam que 30% desses trabalhadores estão afastados pelo INSS com problemas da coluna, uma doença comum do trabalho deles? Sabiam que para o Ministério do Trabalho e para o INSS o problema de coluna deles não é reconhecido como doença funcional? Sabiam que no final de 10 anos de atividades a maioria desses trabalhadores já desenvolveu problemas de coluna? Em nosso mundo civilizado podemos viver sem o botijão de gás para cozinharmos nossa comida? No Brasil, não! A grande maioria dos brasileiros usa o gás para cozinhar. Mas, em que momento paramos para pensar nas pessoas que são responsáveis por esse gás chegar às nossas casas? Assim, pensei neles no dia dos trabalhadores e todos os dias no almoço e no jantar penso na gratidão que devemos aos trabalho deles. Da minha parte, como presidente do sindicato que os representa, penso que muito há que fazer para que suas condições de trabalho melhorem. A chuva no dia 1º de Maio me fez refletir e pensar na minha responsabilidade. Conto com a adesão deles para isso, mas, conto também com a consciência de cada um que ler essa postagem. O mundo civilizado que criamos é realmente civilizado? O que temos que fazer para tornar o trabalho fonte de prazer e alegria e não de doença ou de forma de subsistência? Reparto minha angústia com vocês...

sábado, 21 de abril de 2012

SINDICALISMO, POLÍTICA, ESPONTANEIDADE E CONSCIÊNCIA

Há algum tempo penso escrever esse post. Não sei se todos sabem, mas, também atuo como professora em uma Universidade privada. Não tem sido fácil com todas as ocupações que tenho no sindicato, mas, hoje, confesso que a oportunidade de lecionar tem sido um estímulo a mais à minha vontade de ser co-participante das mudanças em meu país. O contato com os alunos tem me feito um bem enorme, pois, com eles, tenho podido aprender e refletir sobre muitas questões políticas importantes e tenho conseguido reformular meu modo de pensar o sindicato, sua atuação, sua contribuição para a melhoria da sociedade em que vivemos. Cheguei na Universidade com um enorme preconceito político sobre o que iria encontrar. Ali, pensei, iria ter contato com jovens e adultos alienados, doutrinados no modo capitalista de pensar, subjugados pelas crenças colonialistas querendo pegar um diploma para satisfazerem suas necessidades capitalistas de terem melhores empregos e salários, competindo vorazmente no Deus Mercado e tentando passar a perna uns nos outros. Como estava errada! E que bom estava! Não vou dizer que não encontrei também o que temia. Encontrei sim, mas, em pequena escala. Desde que comecei a lecionar passei por 10 turmas diferentes e cada uma delas com suas peculiaridades, suas surpresas e suas diversidades. Temos tido grandes oportunidades de diálogo onde trocamos conhecimentos, sonhos, reflexões, debatendo democráticamente nossas idéias a respeito das relações de trabalho no Brasil, os conflitos, as formas de lidar com eles e sobre o sindicalismo, como ele está estruturado em nosso país, quais seus problemas e quais suas conquistas. E como tenho aprendido... Essas mulheres (em sua maioria) e homens, minhas alunas e alunos, tem me ajudado muito a entender o que Rosa Luxemburgo chama de "Espontaneidade Revolucionária". Alguns como Lenin, creditam a esse termo "espontaneidade" uma pecha de voluntarismo inconsciente, o que não acredito tenha sido a idéia de Rosa quando defendeu essa idéia. O ser "espontâneo" é o ser que traz em si sua força, sua vontade, sua consciência de si, sua individualidade (diferente de individualismo). Acrescido da palavra "revolucionária" ganha contornos mais complexos que sugerem sensos de organização e luta no coletivo. A contribuição de Rosa Luxemburgo nos faz compreender as posições diferentes e divergentes em que se colocam os trabalhadores e trabalhadoras a partir de sua práxis e do momento histórico que atravessam em suas vidas cotidianas. Esses dias, discutindo em sala de aula o Imposto Sindical, vislumbrei a oportunidade de conhecer suas posições sobre o assunto. Vários deles entendiam e defendiam a importância das lutas de alguns sindicatos que conheciam e a importância do financiamento dessas lutas, ao mesmo tempo questionavam - Quais sindicatos? Quais dirigentes? Quem são aqueles que me representam? Que trabalho realizam? Ao que eu argumentava - Como questionar? Como criticar? Onde a participação de vocês se nem nas assembléias que são convocadas vocês vão? Vocês conhecem a quem criticam? Quem são vocês nisso tudo? Um pingue pongue de argumentos que fortaleceu as discussões e fez com que todos refletíssemos. Marx tem uma frase famosa que diz: "A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores". É isso que penso e isso é que estimulo em mim e nos que me rodeiam! Minhas alunas e alunos estão mostrando o quanto a política é inerente às suas vidas, mesmo que eles não chamem isso de política ainda. O que importa? Estão se formando nela dia a dia e fico feliz que possa de alguma forma colaborar com isso...

sábado, 31 de março de 2012

A HERANÇA COLONIAL DO MEDO

Hoje é dia 31 de março de 2012. O dia de lembrar o sentimento de impunidade e impotência que assolou o país durante anos. Um dia que não podemos esquecer jamais. Em 1964, nessa data, perpetrou-se a consumação do Golpe Militar que a partir de 1º de abril deixaria o Brasil envolto numa aura de violência, estupidez e terror. A motivação dessa bestialidade armada se deu pelo medo. O medo do novo, o medo da renovação e da liberdade para um povo que não podia nem devia ter sua própria forma de ver o mundo e seu próprio jeito de construir suas vidas. A colonialidade do poder fechou os caminhos de todos nós durante 564 anos. Sua face grosseira e covarde fez-se mais arrogante e autoritária nos anos de chumbo da ditadura militar e ainda agora coloca as garras de fora num momento particular onde a maturidade e o sentimento de emancipação estão fortes. O que faz militares usarem tortura, abuso e terrorismo contra civis? O que faz a polícia militar usar gás de pimenta, cassetete, choque e espancamento numa manifestação popular ou numa greve de trabalhadores? É o mesmo sentimento que faz agentes penitenciários maltratarem e espancarem presos, tratando-os como se fossem lixo humano. As mesmas motivações que fazem com que jovens adolescentes espanquem e coloquem fogo em mendigos  ou roubem e matem por dinheiro. São as mesmas reações que fazem com que haja o preconceito e a agressão do outro pela simples diferença no pensar, no portar-se e nas escolhas de vida. O medo... O que faz com que a sociedade prefira tratar a violência com mais violência, a truculência com mais truculência e a desumanidade com mais desumanidade? A cultura do medo tem condicionado nossa forma de agir. O medo fabrica o crime e a perversão. Um país que foi colonizado dentro de uma visão civilizatória de expropriação de sua própria história, a partir de uma cultura escravocrata, é um país onde o medo grassa, com todos os contornos infelizes das sensações que causa. Todas as pessoas que agem de forma violenta têm medo! Medo de si mesmas, medo da transformação, medo da liberdade e da responsabilidade da assunção de suas fraquezas. Como não podem se surrar e se bater faz-no em quem joga na sua cara a sua castração e o seu medo de ver-se. Querem castigar quem afronta seus recalques e frustrações. A herança colonial do Brasil vem custando caro a todos nós há muitos anos. Urge superarmos essa dependência. É preciso confrontar todos os medos, todas as agruras, toda a violência que durante todo esse tempo ainda permanece fazendo parte de nós. Um povo que não conhece sua história é um povo que não conhece o seu poder. A abertura dos arquivos da ditadura é essencial para fazer essa catarse necessária à nossa subjetividade. Opressores e oprimidos precisam se enfrentar e enfrentar seus medos e suas marcas. Não dá mais para fingir ou nos iludirmos de que pouco ou nada aconteceu. A punição para os crimes ocorridos será um modo exemplar de fazer com que todos os atores desse processo reconheçam suas dores, sua morbidez e seu recalque. Para sermos outros temos que virar a página definitivamente dessa história. Assim, hoje 31 de março temos que lembrar nossa liberdade, nossa superação, nossa força de transformação. Não há o que ser comemorado como queriam os militares do Clube Militar, mas, há o que se pensar e, principalmente, o que se fazer para que esse capítulo de nossa história seja um aprendizado para as próximas gerações, para que o medo nunca mais faça vítimas e para que a consciência política que estamos desenvolvendo traga paz agora e no futuro.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A DESCOLONIZAÇÃO DAS EMOÇÕES

No último dia 8, assisti várias manifestações sobre o dia da mulher, compartilhei algumas postagens no facebook, participei de algumas conversas, recebi alguns cumprimentos de homens e mulheres e assisti o pronunciamento da Presidenta Dilma Roussef com as congratulações sobre o dia, ilustrando os avanços da última década para nós, mulheres, nas políticas de Governo. Achei tudo muito interessante e oportuno. Realmente tivemos muitas conquistas. É preciso lembrar que fazem somente 80 anos que tivemos direito de votar e sermos votadas aqui no Brasil e que depois disso muito pouco havia sido feito no âmbito das políticas públicas destinadas às mulheres. Foi o Governo Lula e agora o Governo Dilma que abriu brechas e canais para que mudanças acontecessem na sociedade para o coletivo de mulheres. É preciso também ter olhos para ver a expansão da capacidade da mulher nos últimos tempos através da educação escolar e formal. Mais mulheres que homens terminam o segundo grau e vão para as universidades. Um fenômeno estatístico. Mas o que dizer da subjetividade feminina? Das relações entre si e com os outros? Há algo que ainda paira sobre o universo da grande maioria e que é urgente desconstruirmos: a cultura colonial que forjou principalmente as nossas emoções, nossos sentimentos e nossa identidade no mundo social. Durante muitos anos a mulher foi educada para casar, ser esposa e mãe, ser frágil e obediente e fazer tudo pelo seu marido e filhos. Não podia estudar muito! Tinha que ser escrava do lar! O lar seria seu castelo onde o príncipe, seu marido, a deixaria comandar, desde que ela pudesse satisfazê-lo em suas necessidades físicas, sociais e sexuais. Nosso sistema de crenças sobre a vida foi tão afetado por essa visão de mundo que muitas mulheres do tempo de minha mãe não conseguiram se livrar de casamentos frustrantes e infelizes, pois acreditavam que era importante ficarem juntos até o final da vida. Ruim com ele, pior sem ele... Se acostumaram com a dor e o sofrimento e fizeram dele seu processo de vida. Aceitar as coisas como elas são, abdicar de sonhos, fazer o que não gostavam era o roteiro itinerante de toda mulher tida como "virtuosa". Minha geração fez várias mudanças nessa cultura, mas, mesmo com as mudanças feitas, persistem as crenças. Tenho consciência de que alguns clássicos que li na infância ajudaram muito nisso... A perpetuação de um modelo colonial, de controle dos corpos, manipulação dos sentidos e da realidade da vida. Queriam controlar os sentimentos das mulheres. Quem não se lembra dos contos de fadas? O que era aquilo, gente? Acho a fantasia uma coisa muito importante para as crianças, pois, através da fantasia é que aprendemos a representar o mundo e a ter condições de criar e antecipar as coisas. Loucura, não? Quando sonhamos somos capazes de nos transportar para qualquer lugar e realizar qualquer coisa. Assim, sei que muitos livros que li na minha infância colaboram para que eu tivesse a capacidade de criar, renovar e transformar, mas também, muitos outros estruturaram crenças em minha mente que me limitaram em minhas potencialidades de mulher e no meu senso de liberdade, provocando ilusões, mas, como sempre fui uma pessoa ávida por conhecer e estudar, aprendi a fazer dos meus anseios e limitações uma ferramenta para a busca de conhecimentos e experiências que me possibilitassem compreender a realidade e me lançar no mundo. Ainda não sou totalmente madura emocionalmente, mas, quem o é? Conheço muitas mulheres e também homens mal resolvidos emocionalmente, todos iludidos pela mesma cultura colonial. Homens podem tudo e mulheres não! Homens precisam de muitas mulheres para se sentirem homens! A mulher só pode ter um para ser feliz, se tiver outros é prostituta! Homens tem que ser garanhões sexuais e não são capazes de ter sentimentos! As mulheres tem sentimentos e não podem ser racionais! Tem mulheres para casar e mulheres para transar! Tem homens libertinos e homens sérios! Vários estereótipos criados pela cultura que nos fizeram permanecer crianças emocionais, dependentes, incapazes de fazer escolhas com liberdade. Muitos acham que são livres, mas, não conseguem viver essa liberdade em si e são dominados sem que se dêem conta disso. São escravos de medos imaginários, exigências e expectativas que projetam sobre si e sobre os outros. O sistema gera adultos infantilóides incapazes de viver a vida com alegria, emoção e plenitude... E assim, as coisas continuam como dantes no quartel de Abrantes... conhecem essa apologia? Mulheres e homens continuam deixando sua subjetividade nas mãos do sistema. Vivem uma dualidade insuportável, que oprime e subjuga em chavões estruturantes. Culpam-se uns aos outros pelo que são e jogam no outro a responsabilidade pelo que sentem. Inventam justificativas para não se darem, não se compreeenderem, não conviverem. Tem medo das diferenças. Tem medo de se dar. Não conseguem viver relações plenas. No terreno das emoções, do sentimento e da afetividade muito há por ser feito para que nós, mulheres e homens nos libertemos. Temos que acordar!  As lutas não podem ser somente coletivas, elas começam em nós.
A ternura, o amor, a coragem, a criatividade, a amizade, o companheirismo, o aconhego, a beleza, a serenidade, o respeito e a liberdade estão pedindo passagem... Que possamos aprender a descolonizar nossas emoções e que a vida seja mais plena e menos opressora para todos nós...

domingo, 26 de fevereiro de 2012

SER CRIANÇA... OUTRA CIVILIZAÇÃO POSSÍVEL?

Acabou o carnaval e muitos já recolocam suas máscaras. É uma pena! O que mais gosto dessa época, como já disse é ver as pessoas sendo elas mesmas. A alegria, a brincadeira, o lúdico humano abrindo espaços e se fazendo forte entre as pessoas. Não há perversão e opressão no lúdico, apenas cooperação e solidariedade. Não sei se todos sabem, mas desfilei na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel nesse carnaval. Foi incrível! Aprendi muito sobre a capacidade que temos de transformar uma idéia, saindo da adversidade e do caos para algo indescritivelmente organizado e bonito. E quantas pessoas incríveis conheci que fazem isso o tempo todo! Ah, quem dera fosse carnaval o ano inteiro e que pudéssemos transgredir as crenças coloniais que trazemos em nós que afirmam somente que não podemos, que não conseguimos, que somos menos que outros, entre outras coisas... A propósito disso, ontem, tive outras lições com minha neta de dois anos. Minha filha e eu a levamos na praia num ambiente que tem vários brinquedos e várias crianças. Ai, como é bom ver crianças brincando... Como a gente aprende com elas... Para os adultos enjaulados na seriedade e no mito civilizatório, brincadeira de criança não ensina nada, chegam a dizer que é perda de tempo. Não conseguem observar, analisar, refletir... A brincadeira como nexo social e como primeira experiência de trabalho. Bem, ao ver minha neta Sara brincando com outras crianças, pude verificar como a educação colonial que recebem em casa deforma. Estavam na brincadeira cinco crianças, minha neta, mais duas menininhas de sua idade, um garotinho da mesma idade e um outro garotinho um pouco mais velho, de cerca de 4 anos, negro. Por que acentuei que o garotinho mais velho era negro? Apenas, porque as outras crianças eram brancas, filhas de pais brancos, moradoras do bairro de Icaraí em Niterói, tradicionalmente um bairro elitista. Bem, as quatro crianças brancas estavam sentadas brincando com baldinhos e pazinhas quando o garoto negro trouxe um anel que havia achado na areia e presentou-o a uma das meninas. O pai da menina até que teve uma atitude interessante e falou com a filha: - Veja querida, o que o amiguinho te deu! Outro pai, entretanto, foi até o menino negro e tentou evitar que ele se aproximasse do grupo, dando a desculpa para sua discriminação de que ele era mais velho e estava correndo muito, jogando areia em todo mundo, bagunceiro e agitado demais. Fiquei analisando o preconceito do pai da menina que se escondia atrás de um conceito de civilidade. As meninas e o menino branco estavam brincando civilizadamente e o menino negro estava ali transgredindo aquela civilidade. Adorei quando ele não se fez de rogado e sentou-se perto das outras crianças que, imediatamente, passaram a dividir com ele os brinquedos. E assim, as crianças permaneceram por algum tempo, brincando, falando, se divertindo, trocando seus brinquedos, e até brigando de vez em quando, sem qualquer "civilidade". Ah, como gostei de ver aquilo! Aquele garotinho negro brincando sem receios com quatro crianças brancas, à vontade como qualquer criança deve se sentir. Depois, eu e minha filha fomos para casa e eu olhei para minha neta no colo dela com muita ternura e agradecimento. Eu, no auge de meus 50 anos, tinha vivenciado através dela e aquelas crianças, a experiência de que, somos nós adultos, que através das limitações de nossas crenças civilizatórias que impomos aos nossos pequenos a discriminação, o preconceito, o desrespeito, a hipocrisia, a violência, o desamor, a guerra. Os adultos querem esconder suas limitações, vêem nelas coisas ruins e não conseguem dialogar sobre isso. As crianças não escondem, não negam o que são! Brigam, discutem e chegam às suas conclusões sem problemas! Se vêem diferentes, divergentes, mas, se não tiverem a interferência de adultos perto delas, vivenciam o entendimento. A sapiência e solidariedade daquelas crianças me comoveram e me fizeram enxergar além dos horizontes. Assim, mais do que nunca venho buscando o lúdico, a alegria, a brincadeira, a sinceridade, a lealdade, a solidariedade, o amor, a ternura como força de ação em minha vida. Quero viver isso e quero gente assim perto de mim! A gente quando é criança tem todos esses valores, adultos, é preciso resgatá-los urgente. Assim, deixo aqui uma mensagem para você. Veja o que os valores civilizatórios colonialistas fizeram com você! Transgrida e revele o que existe aí dentro sufocado por padrões que você recebeu da sociedade repressora! Tente se isolar de vez em quando e reflita sobre as coisas que fez no dia! Verifique cada momento e pense até que ponto você foi você mesmo? Se cada um de nós fizer isso, com sinceridade e paciência, acelereraremos os passos na revolução que queremos fazer no Brasil, tornando esse país muito melhor de viver!!!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

SE O CARNAVAL É ÓPIO DO POVO, EU QUERO ME VICIAR...

Acordei hoje com um samba na mente. Levantei da cama cantando o samba cheia de energia. Diria que passei a noite inteira sonhando com a alegria do carnaval. Há pessoas que dizem que o carnaval, assim como futebol, são formas de fazer o povo esquecer as coisas, são uma espécie de droga que tira o foco dos problemas. As pessoas seguiriam brincando o carnaval e se esqueceriam das mazelas de seu cotidiano... Os que dizem isso, ainda não conseguiram entender do que é feita nossa humanidade. Há algum tempo atrás eu mesma via o carnaval com uma certa desconfiança. Movida por preconceitos que não eram meus, tinha a mesma visão de algumas pessoas. A visão colonial e restritiva que nos foi imposta e que abafou a boniteza de nossa singularidade. Somos seres humanos singulares. Temos dentro de nós uma infinidade de sentimentos incríveis esperando a oportunidade de virem a tona, trazendo-nos sensações maravilhosas de alegria, prazer, felicidade e amor, mas... Nos separamos dessas sensações para sermos pessoas sérias, comportadas, corretas, perfeitas, seguindo o padrão civilizatório que nos foi ensinado. E o que isso tem feito por nós? O mito de que o carnaval é uma festa que cega as multidões para as questões sociais faz parte do imaginário de muitos militantes que ainda não descobriram que vestem máscaras o ano todo. É verdade! As máscaras padronizadas por papéis sociais tidos como certos que nós militantes vestimos são a prova cabal de que ao lutar por uma sociedade diferente estamos reafirmando o passado, estamos confirmando o mesmo padrão de sociedade que queremos mudar. Será que me fiz entender? Os padrões civilizatórios fizeram das suas em nossa mente... É um vício constante... A Matrix perfeita. Você já viu esses filmes? Sou o que o sistema me deixa ser... E por mais que isso me tolha, me limite, me silencie, me frustre e me trancafie num personagem que não sou, eu  continuo vivendo o personagem e colocando a máscara todos os dias. E o que isso tem haver com o  carnaval? Ao contrário do que muitos acham é nele que nos permitimos brincar, nos expressar, nos alegrar, sentir as emoções e sensações verdadeiras que vem diretamente de dentro de nossa alma. É no carnaval que somos nós mesmos, com todas as qualidades que nos tornam interessantes e singulares. Somos o que somos nesses dias, sem máscaras nem defesas. Somos, simplesmente... Nos outros dias do ano, a busca da felicidade se torna um tormento sem par. Fazemos de tudo para alcança-la sem que cheguemos um centímetro sequer perto dela. Procuramos nas coisas externas, o que não deixamos extravasar de nosso ser interno. O mais bonito de nossa humanidade é exatamente a diversidade de sentimentos maravilhosos que temos dentro de nós esperando a oportunidade de virem a tona, com todas as suas nuances e sutilezas, deslizando pelo nosso corpo, se mostrando. E isso é o Carnaval! Não foi a toa que a Igreja e todos os sistemas políticos sempre se utilizaram de mecanismos para controlar os corpos, principalmente das mulheres, símbolo das sombras. Aí estava sua base de controle político, seu sistema de opressão. Nisso vemos a diferença nas tradições religiosas africanas... Os corpos se mexendo, dançando, pulando, são experiências divinas... Sexo, é divino! É o que nos aproxima dos deuses e orixás! É por isso que não posso concordar com companheiros que afirmam que o carnaval é o ópio do povo... Se enganam! Cada vez mais me convenço! A maior luta que temos que fazer é a luta para nos afastar da mesmice, a batalha de nos permitirmos ser nós mesmos, sem sujeições, sem máscaras, hipocrisias e ilusões. O Carnaval é do povo! E através dele o povo se instrumentaliza para a luta maior de todos os dias, a luta de deixar fluir seu jeito de ser diferente, alegre, generoso, criativo, potente e livre. Viva o Carnaval com sua forma sutil de provocar revoluções! E vamos brincar... que o dia está lindo!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A ESCOLA DA VIDA...

Hoje estava com minha alma nostálgica. Lembrei do tempo em que tinha 6 anos de idade, sentada numa pequena mesa lendo clássicos da literatura. Lembro-me de que tinha uma parte do armário de meu quarto cheia de livros e gibis. Minha mãe incentivava minha curiosidade pela leitura, me contava histórias e me dava livros para ler. Foi ela que me ensinou a ler e quando cheguei na escola, já conhecia o mundo das letras. Para ela a educação escolar era muito importante. Saber ler, escrever e contar... Ir fundo na leitura dos clássicos da literatura. Minha mãe se importava com o que eu iria aprender. Me questionava os deveres de casa, se orgulhava das redações que eu fazia ao mesmo tempo que tinha medo do que eu escrevia. Era engraçado ver o brilho que ela tinha no olhar quando eu lia alguns de meus textos e a ansiedade que ficou quando publiquei meu primeiro conto num livro de contos de Barra Mansa, cidade onde nasci. É muito triste vê-la hoje deitada numa cama, apática, sem luz e sem cor... Mas é a vida! Foi assim que comecei a pensar nessa postagem! A vida educa! Quando saí de casa aos 15 anos, e vim morar no Rio de Janeiro minha mãe me disse que a vida ia me bater muito, porque eu era muito rebelde. Fiquei anos pensando no que ela quis me dizer naquele dia! A cada fase de minha história de vida pensava se ela tinha ou não razão... O que seria apanhar da vida? Hoje, quando vejo a minha trajetória consigo perceber do que minha mãe tinha medo. Ela, viveu num mundo onde não teve as oportunidades que tive... Além disso, apesar de muito inteligente e preocupada em me dar uma "boa" educação, ela não teve coragem em assumir muitas das suas verdades e desejos e viveu uma vida com poucas possibilidades. Assim, a minha rebeldia me livrou de muitas coisas e me deu outras... Graças a essa rebeldia, pude ser educada pela vida! Sim, a vida educa, mostra milhares de coisas, nos faz refletir e renova nossas visões de mundo. Não tenho como contar quantas fases já tive. O que pensava e o que penso! O que sonhava e o que sonho! O contato com pessoas e grupos diversos me fez compreender coisas que nenhum livro poderia me dar. Hoje, quando olho os meninos e meninas que tem o sonho de ser bailarinos no Projeto Raízes da Vila que tento promover, me emociono com mais uma oportunidade que a vida me deu de aprender a superar a realidade através do sonho, do sonho deles junto com o meu! Quando vejo disposição nos olhos de operárias e operários para lutar pelos seus direitos, comovo-me e retiro de dentro de mim a energia necessária para lutar com eles. Será que isso eu conseguiria aprender nos livros? Existiria algum manual para lidar com a vida, a não ser a própria vida a mostrar os caminhos? Quantas escolas temos que nos ensinem a compartilhar, a nos emocionar, a nos unir, a sermos amigos? Existe escola para ensinar homens e mulheres a se relacionarem? Existem escolas que ensinam fraternidade? Paulo Freire foi um dos educadores que entendeu que educação e vida se entrelaçam! Uma das suas frases célebres: Ninguém educa ninguém! Os homens aprendem em comunhão! Temos que aprender a ler a vida! Esses dias, tive um exemplo disso. Estava numa assembléia de trabalhadores para falar sobre os problemas relacionados a questão da Convenção Coletiva de Trabalho deles. Ao subir no carro de som, tive alguma dificuldade porque estava tomando um remédio muito forte para uma crise de alergia, que estava me deixando tonta e com dores, mas, não deixei que isso me impedisse de subir no carro e falar com eles. Foi a melhor assembléia que fiz. Alguns deles se emocionaram e chegaram a dizer que estavam felizes porque a presidenta tinha se emocionado ao falar com eles. Na verdade a dor que estava sentindo deixou minha voz mais embargada e deu um tom de emoção que não havia passado nas outras assembléias que tinha feito. O que aprendi com isso? As pessoas reconhecem o respeito, a consideração e o amor com que fazemos as coisas. Somos mais próximos quando somos capazes de sentir o que os outros sentem. Num mundo onde muitos são tratados como coisas, ter humanidade, ser leal e sincera faz diferença! Tomara que eu possa fazer mais diferença e tomara consiga aprender cada vez mais na escola da vida... Nessa escola sempre passamos de ano se aprendermos a ter olhos de ver e ouvidos de ouvir.

domingo, 29 de janeiro de 2012

PINHEIRINHOS NOSSOS DE CADA DIA

Ando muito triste e incomodada ultimamente! Cada vez que vejo injustiças acontecendo e pessoas do Judiciário afirmando a necessidade de cumprir-se a lei, fico pensando no que essas pessoas pensam e afirmam ser JUSTIÇA... No dia do massacre do Pinheirinho postei inúmeras notícias no Facebook denunciando o que estava sendo feito. Fotos, vídeos, informações a todo momento fizeram parte do meu dia tentando mostrar a INJUSTIÇA, a ARBITRARIEDADE, a INDIGNIDADE, a MALVADEZA, a SAFADEZA, enfim... muitas outras palavras poderiam dar significado para aquilo que aconteceu. E o por que aconteceu? Isso é que é o mais triste... Alguns colegas do Facebook e até parentes meus vieram me questionar as postagens. Disseram que eu estava pregando a ilegalidade... ILEGALIDADE??? Para que serve a lei? Para servir aos interesses de quem? O que é ilegal de fato? Todos sabemos o quanto o Judiciário está distante do cotidiano das pessoas. É legal ser pobre e sofrer as contigências de um sistema que favorece os ricos? É legal ser negro e sofrer as discriminações de um sistema preconceituoso? Acordem Juristas!!! A Constituição Brasileira no seu artigo 5º diz que: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade..." Não vou reproduzir aqui o todo o conteúdo da Constituição nesse Capítulo "Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos" mas, ali estão expostas garantias fundamentais que todos nós temos, repito, todos nós temos e não apenas alguns. Para citar apenas algumas, aqui vai: "III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;" O que aconteceu no Pinheirinho? Não foi tratamento degradante??? Não foi tratamento desumano??? Foi o que então??? Mas, para resolver os problemas que alguns Juristas possam estar tendo em suas consciências, resolvi também descrever os seguintes itens: "XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;" Se por um lado temos a pecha liberal do direito à propriedade, temos também o argumento firme de que essa propriedade deve cumprir uma função social. E aí Juristas??? Como é que fica??? Não precisam responder!!! Sei que alguns de vocês vão encontrar argumentos de todas as formas para justificar o legalismo! Mas não há legalismo que justifique a DOR, o SOFRIMENTO, o ASSASSINATO, a TORTURA que foram impostos àqueles cidadãos e a tantos outros que sofrem com a negligência e incúria de Governos e Judiciários voltados aos interesses de uma classe burguesa imbecilizada que só consegue ver e defender seu próprio umbigo. Culpo e sou sim monocrática na minha defesa desses cidadãos e cidadãs! Alô!!! É verdade Juristas e Governistas do PSDB!!! Eles são cidadãos!!! Não são coisas!!! Não são lixo!!! Mas, foi como lixo e coisas que vocês os trataram! É como lixo e coisas que são tratados homens e mulheres todos os dias por Governos e Judiciários que pensam como vocês!!! Façam uma coisa, por favor, para justificar melhor ainda seu legalismo, queimem a Constituição Brasileira, como vocês queimaram e destruiram as casas desses cidadãos e cidadãs. Continuem agindo com seu legalismo... E nós, continuaremos denunciando e agindo com nossa humanidade, respeito e apoio a leis que de fato contribuam para a igualdade e justiça social! Não vamos nos entregar jamais! Vamos denunciar, denunciar e denunciar! Vou continuar denunciando sim! Vocês que se danem! Não me venham com seu legalismo que eu irei com minha justiça!!!

sábado, 21 de janeiro de 2012

A DOR DA IMPOTÊNCIA

Hoje queria falar sobre uma dor muito doída que faz arder meu coração não é de hoje. A dor da Impotência! A dor de ter Humanidade! Aqui na internet, pelas redes sociais, tenho tido a oportunidade de encontrar algumas pessoas que conviveram comigo há muito tempo atrás. Elas me procuram pela rede e querem conversar comigo, lembrar os velhos tempos, dizer o quanto representei na vida delas. É incrível saber disso... É alentador... Ajuda a ver que, de alguma forma pudemos ser referência na vida de alguém! Realmente, durante uns 18 anos, mais especificamente de 1984 até 2002, muitas pessoas conviveram comigo, viveram comigo no mesmo ambiente. Explico, durante esse tempo várias famílias moraram na minha casa. Servíamos como uma expécie de lar substituto, um albergue para pessoas que estavam com problemas para se manter. Como nossa casa era grande, tinha dois andares, podíamos fazer isso. Por lá passaram vários tipos de pessoas, com suas dificuldades e sofrimentos. O bom dessa experiência, foi ter convivido com todo tipo de dor e problema, podendo conhecer o drama de tantas pessoas a partir de seus paradigmas de vida e aprender com isso. O ruim era a dor e tristeza da perda! Lembro-me de muitas vezes ter me sensibilizado e vertido lágrimas de preocupação quando qualquer uma dessas pessoas iam embora, saindo de perto de nossa proteção. Grande pretensão a nossa! Era o que acreditávamos, que podíamos ajudar as pessoas a ter outra vida... Mas aí vieram as limitações, as decepções, os obstáculos. Me lembro de um dos meninos da comunidade, o Gustavo, um menino vivo, alegre e muito levado. Gustavo foi um dos que me causou uma das maiores dores que já senti. Era negro, filho de mãe solteira, que todos na comunidade diziam que era prostituta, porque tinha tido filhos com dois homens diferentes e não era casada com nenhum. Ele era o mais velho e pelo que na época observava, ela não tinha simpatia por ele, parecia que o culpava por sua condição humilhante de mãe solteira, apontada por todos. Pobre mulher! E pobre Gustavo! Eu me apaixonei por aquele menino, tão perdido e confuso diante do ambiente que vivia de exploração, pobreza e violência. Quantas e quantas vezes Gustavo fugia de casa e vinha se esconder em nosso quintal. E quantas vezes acarinhei sua cabeça dando conselhos que hoje sei ele não conseguia compreender. Foram alguns anos de convivência, até que Gustavo se envolveu com o tráfico de drogas. A melhor forma de ter dinheiro, poder e força... Um belo dia, estava eu voltando do trabalho e recebi a notícia. Gustavo tinha sido assassinado. Queima de arquivo! Chorei muito pela dor de sua perda! Lembro dele todas as vezes que escuto ou vejo pessoas criminalizando e violentando os pobres! Lembro dele quando alguém morre assassinado pela polícia ou pelos traficantes! Lembro dele quando pessoas morrem nas filas dos hospitais privados ou públicos. Lembro dele quando pessoas são discriminadas por sua cor de pele ou por sua opção sexual. Lembro dele e de todos que passaram pela minha vida pisoteados pela imposição de uma cultura civilizatória de mercantilização, que permite indignidades e crueldades em nome do capital. Hoje minhas lágrimas já não rolam tanto! Aprendi a conviver com essas desditas e faço de minha revolta um motor de combustão para minhas lutas. Tenho consciência de que não posso fazer mais do que já faço e não me culpo mais pela impotência do que não posso fazer. Faço das minhas palavras, da minha escrita e da minha ação militante um grito de denúncia e de indignação. A dor de minha impotência ainda arde, dói, entristece, mas, me faz mais forte a cada dia, me enche de sabedoria e ternura, me torna mais Humana do que já fui. Humanidade para um mundo mercantil é um gesto de rebeldia! Sou rebelde! Sou sim! E vou continuar sendo! Humanamente rebelde! Para você Gustavo e todas as crianças e jovens que vi morrer eu digo. PRESENTE! PRESENTES EM MINHA ALMA!

domingo, 15 de janeiro de 2012

A POTÊNCIA DAS MULHERES

Estava pensando sobre o que falar hoje... Educação é um tema muito importante para mim! Em 2001 quando me formei pedagoga, achava que podia salvar o Brasil pela educação, mas, o que eu percebo hoje é que eu, assim como muitos educadores, ainda vemos o processo educativo como valor, como produto, como acúmulo de conhecimentos. Paulo Freire foi quem nos mostrou isso! Hoje até ele é usado para justificar essa forma de educação. Na realidade, educação é um processo de potencialização e organização da inteligência, das emoções, das habilidades, das capacidades e por que não, das sensações que todo ser humano tem. Não há uma mulher ou um homem que não tenha a possibilidade de fazer coisas incríveis para si e para sua comunidade. Assim, já que temos atualmente comunidades virtuais e esse meu blog é uma comunidade, resolvi abrir o espaço para artigos, poesias, charges e vídeos de mulheres que como eu militam de alguma forma em alguma atividade sindical ou política. Me perdoem homens, mas, vocês estão de fora! Convivo com muitos de vocês, trabalho e milito junto com vários de vocês, mas, nesse blog o gênero feminino é coisa séria! A motivação da escrita para muitas mulheres ainda é algo muito novo... Principalmente quando se trata de falar do seu cotidiano na vida e no trabalho. Como educadora quero potencializar isso! Já convidei uma aluna minha de pós-graduação para postar o próximo artigo do blog e dei a ela uma tarefa que sei que ela é capaz de fazer. Imagine que ela tem dito todos os dias para ela mesma, como um mantra, "eu sou capaz, eu sou capaz", já que se sentiu um tanto insegura num primeiro momento. Nós, mulheres, fomos criadas pelo sistema para sermos inseguras, para termos medo, para sermos retraídas, para sermos recatadas e para odiarmos outras mulheres, porque elas podem roubar nossos homens...  Nossos... Puro espírito de posse! Isso não é gostar! Quem é dono de quem? Que invenção besta! Ainda bem que estamos mudando isso há algum tempo... Mas há mais para ser mudado. Faz parte do nosso show sermos nós mesmas, sem hipocrisia, sem escrúpulos ou moralidades. Mulheres lindas, fortes, pretas, amarelas, brancas, de todas as idades, experiências e vivências. Estou com vocês e não abro!!! Vamos juntar nossos elos...

domingo, 8 de janeiro de 2012

FEUDALISMO TEIMOSO

Normalmente minhas postagens são irônicas e tento através delas marcar a minha opinião sobre temas relacionados ao cotidiano de trabalho, mas, daí, como vivo reestruturando o que penso, resolvi hoje tratar de um assunto, que tem haver com cotidiano, as marcas do colonialismo no Brasil e o capitalismo selvagem. A morte de um indiozinho de apenas 8 anos da etnia Awá-Gwajá, da reserva de Araribóia, município de Arame no Maranhão, assassinado por madeireiros. Assim que soube do ocorrido postei no meu perfil do Facebook a denúncia! Mas, o episódio me fez pensar mais uma vez sobre o quanto nossas leis são contrárias à natureza e ao que é efetivamente importante para nós como seres humanos. Como imaginar que seres humanos iguais a nós podem ter cometido um assassinato desses simplesmente para fazer valer seu poder pelo lucro e pelos ganho fácil? Basta conhecer nossa história que veremos que em nosso país se misturam fases diferentes da vida social, do que aconteceu em longos períodos da história européia e norte-americana. O feudalismo que estudamos na escola relativamente aos povos europeus ainda habita nosso país. São senhores feudais que estão nas fazendas matando o povo que luta pela terra, são senhores feudais que também são capazes de matar índios, sejam eles adultos ou crianças para que seus lucros, sua devastação da natureza e suas terras sejam preservados.São senhores feudais que trabalham em empresas praticando assédio moral e sexual, políticas imperialistas de gestão e impondo sua verdades como se fossem as corretas, matando corações e mentes de trabalhadoras e trabalhadores. E como podemos combater o feudalismo por aqui? Além de denunciar, precisamos ser exemplares no cumprimento da justiça! A crueldade desse episódio de nosso indiozinho, tão pequeno e frágil nas mãos de madeireiros insandecidos pelo seu trabalho de destruição reflete o quanto ainda temos que lutar para que o país fique livre desse feudalismo tardio que teima ainda em continuar, apesar de tudo que já conquistamos nesse dois últimos Governos. E a Justiça, será que vai acontecer? Cadê o Judiciário? Infelizmente, lá também ainda temos feudos... E que feudos...