sábado, 18 de fevereiro de 2012

SE O CARNAVAL É ÓPIO DO POVO, EU QUERO ME VICIAR...

Acordei hoje com um samba na mente. Levantei da cama cantando o samba cheia de energia. Diria que passei a noite inteira sonhando com a alegria do carnaval. Há pessoas que dizem que o carnaval, assim como futebol, são formas de fazer o povo esquecer as coisas, são uma espécie de droga que tira o foco dos problemas. As pessoas seguiriam brincando o carnaval e se esqueceriam das mazelas de seu cotidiano... Os que dizem isso, ainda não conseguiram entender do que é feita nossa humanidade. Há algum tempo atrás eu mesma via o carnaval com uma certa desconfiança. Movida por preconceitos que não eram meus, tinha a mesma visão de algumas pessoas. A visão colonial e restritiva que nos foi imposta e que abafou a boniteza de nossa singularidade. Somos seres humanos singulares. Temos dentro de nós uma infinidade de sentimentos incríveis esperando a oportunidade de virem a tona, trazendo-nos sensações maravilhosas de alegria, prazer, felicidade e amor, mas... Nos separamos dessas sensações para sermos pessoas sérias, comportadas, corretas, perfeitas, seguindo o padrão civilizatório que nos foi ensinado. E o que isso tem feito por nós? O mito de que o carnaval é uma festa que cega as multidões para as questões sociais faz parte do imaginário de muitos militantes que ainda não descobriram que vestem máscaras o ano todo. É verdade! As máscaras padronizadas por papéis sociais tidos como certos que nós militantes vestimos são a prova cabal de que ao lutar por uma sociedade diferente estamos reafirmando o passado, estamos confirmando o mesmo padrão de sociedade que queremos mudar. Será que me fiz entender? Os padrões civilizatórios fizeram das suas em nossa mente... É um vício constante... A Matrix perfeita. Você já viu esses filmes? Sou o que o sistema me deixa ser... E por mais que isso me tolha, me limite, me silencie, me frustre e me trancafie num personagem que não sou, eu  continuo vivendo o personagem e colocando a máscara todos os dias. E o que isso tem haver com o  carnaval? Ao contrário do que muitos acham é nele que nos permitimos brincar, nos expressar, nos alegrar, sentir as emoções e sensações verdadeiras que vem diretamente de dentro de nossa alma. É no carnaval que somos nós mesmos, com todas as qualidades que nos tornam interessantes e singulares. Somos o que somos nesses dias, sem máscaras nem defesas. Somos, simplesmente... Nos outros dias do ano, a busca da felicidade se torna um tormento sem par. Fazemos de tudo para alcança-la sem que cheguemos um centímetro sequer perto dela. Procuramos nas coisas externas, o que não deixamos extravasar de nosso ser interno. O mais bonito de nossa humanidade é exatamente a diversidade de sentimentos maravilhosos que temos dentro de nós esperando a oportunidade de virem a tona, com todas as suas nuances e sutilezas, deslizando pelo nosso corpo, se mostrando. E isso é o Carnaval! Não foi a toa que a Igreja e todos os sistemas políticos sempre se utilizaram de mecanismos para controlar os corpos, principalmente das mulheres, símbolo das sombras. Aí estava sua base de controle político, seu sistema de opressão. Nisso vemos a diferença nas tradições religiosas africanas... Os corpos se mexendo, dançando, pulando, são experiências divinas... Sexo, é divino! É o que nos aproxima dos deuses e orixás! É por isso que não posso concordar com companheiros que afirmam que o carnaval é o ópio do povo... Se enganam! Cada vez mais me convenço! A maior luta que temos que fazer é a luta para nos afastar da mesmice, a batalha de nos permitirmos ser nós mesmos, sem sujeições, sem máscaras, hipocrisias e ilusões. O Carnaval é do povo! E através dele o povo se instrumentaliza para a luta maior de todos os dias, a luta de deixar fluir seu jeito de ser diferente, alegre, generoso, criativo, potente e livre. Viva o Carnaval com sua forma sutil de provocar revoluções! E vamos brincar... que o dia está lindo!

Um comentário:

  1. Adorei querida Lígia, sua reflexão. Concordo com absolutamente tudo, e sabe a estória do persa agem diário? Que finge ser o que nao é para sobreviver nessa selva? Pois então é esse papel que tenho me recusado a ser...e tenho sido bombardeada e "mirada"como um ET....outra falamos disso, vou tentar tirar despertar Claudia Alonso e sairmos para brincar no Boi Tatá....beijo , pra mim também foi um prazer conhecê-la. Jú

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