domingo, 16 de junho de 2013

OS NOVOS BRASILEIROS QUE SONHAM

Darcy Ribeiro nos dizia do que somos feitos, nós, o povo brasileiro. Somos uma mistura cheia de nuances culturais e étnicas incrivelmente diversas. Essa diversidade é que favorece a alma brasileira, a riqueza extraordinária que envolve a subjetividade dos brasileiros, que os faz ser tão criativos e alegres. A cantilena ideológica dos poderosos sempre afirmou que éramos a esperança do mundo! Um país alegre, viçoso, com pessoas simpáticas e solidárias. O Brasil não tem guerras, diziam. Somos diferentes! Sim, tenho que concordar que somos diferentes. Não por conta de todo esse discurso vazio de pessoas que nunca viram o Brasil de fato e nunca viveram a vida da periferia das cidades, dos morros e dos campos. A ilusão de um Brasil fraterno pode até ter visitado os pensamentos de algumas gerações de brasileiros tal a massiva propaganda que sempre receberam da mídia. Mas, as contradições vividas em sua realidade estavam sempre caindo em seus colos e demonstrando o contrário. A colonialidade do poder presente desde sempre, ajustando a vida de todo mundo a um certo modelo de sociedade, que aos poucos vai se transformando sorrateira e maliciosamente a favor dos poderosos. A sociedade capitalista. Uma sociedade onde o dinheiro é fator preponderante e a mola mestra de todas as coisas. Se juntamos exploração, escravidão, roubo, violência, iremos ver o verdadeiro retrato do Brasil que se formou há 500 anos. Depois de anos de arbítrio e colonialismo presente na vida de todos, o que esperar? Os sonhos sempre sendo enterrados. A violência grassando. A realidade da vida mostrando que nada estava certo no discurso elitizado. Os anos 60 chegaram e com eles vários sonhos. Uma geração de jovens foram para as ruas. Na luta por um Brasil melhor descobriram que o colonialismo era mais forte e que o aparelhamento político/militar dos poderosos grandioso. E 1964 veio enterrando todos os sonhos, perseguindo e matando aqueles que queriam transformá-los em realidade. A força violenta do regime militar destroçou as esperanças com o slogan: "Esse é um país que vai prá frente!" Prá frente de batalha, com certeza. Muitos morreram e foram torturados para que a democracia surgisse e com ela a volta da liberdade. Liberdade? Qual liberdade? A capitalista, não podemos esquecer. Mas, os brasileiros continuaram a sonhar. A reconstrução de uma democracia capitalista nos anos 80 aconteceu aos poucos culminando em 1988 com a promulgação da Constituição Cidadã e a construção de um modelo representativo capaz de dar sustentação aos desejos e sonhos da sociedade. E mais uma vez os sonhos foram frustrados. FHC vendeu o patrimônio brasileiro por bagatelas e o Brasil totalmente dependente dos organismos econômicos mundiais, passava o pires em toda parte. A corrupção grassando solta em seu governo e o judiciário leniente com isso. Coube a Lula em 2003 fazer o que ninguém até então tinha feito. Tornou o Brasil independente dos organismos internacionais! Não teria como fazer isso sem uma mudança de perspectiva e de rumo no modelo até então em vigor. A clara escolha pelos mais pobres colocou-o em choque com os de sempre. A elite conservadora e colonialista que até hoje continua aparelhando o Estado brasileiro. Mas Lula fez outra coisa importante que a elite não percebeu de imediato, deu autoestima ao povo sofrido e fez com que voltassem a sonhar de novo. Os mais pobres começaram a se mirar nele e entenderam que também tinham direitos, que também podiam ter acesso a bens de consumo e que suas vidas poderiam mudar. No contato com o povo e com representantes dos movimentos sociais sempre dizia: "Cobrem o Governo! Vão para as ruas! Tem coisas que a gente só consegue fazer se a sociedade cobrar! O Governo não consegue fazer tudo!" Seria ingênuo acreditar que no modelo de democracia capitalista que vivemos, Lula tivesse como mudar o sistema político brasileiro dominado pelas elites colonialistas. Ele conseguiu mudar o rumo da economia e as prioridades do Governo tendo que fazer um certo "acordo" com essas elites. Lula apostou no povo e conseguiu mostrar as contradições e preconceitos de classe que existiam no Brasil desde sempre. O povo entendeu? Estamos começando a ver isso agora. Nos últimos dez anos melhorou substancialmente a economia e o acesso aos bens de consumo. O povo que vivia na miséria, começou a ter oportunidades através do bolsa família de se sustentar, de deixar os filhos estudarem, de qualificar-se para um emprego, de tornar-se pequeno produtor ou micro empresário. Os jovens começaram a ter mais acesso às universidades. A desigualdade diminuiu, mas, não acabou e as lutas de sempre persistiram. A população jovem se por um lado está atenta às oportunidades que passaram a ter nos últimos anos, estão pensando e refletindo mais sobre suas condições de vida. Valorizam o que foi conseguido até agora, não querem perder isso, mas, querem mais e estão atentos ao poder das corporações empresariais que agem de forma criminosa em nossa sociedade e sua atuação sobre os partidos e políticos. Se denominam apartidários, como se essa designação os fizesse neutros, preocupados em não se deixar contaminar. Como se neutralidade fosse possível. Contradições que foram exploradas ao longo do anos pela mídia corporativa e que venceu vários corações. A política e os políticos são uma droga! O discurso de polarização entre partidos não os convence. Esses jovens tem outra visão do poder. Uma visão horizontal que aposta no devir. Isso está sendo difícil de ser entendido por muitas lideranças carcomidas por suas certezas. Não enxergam que a formação política desses meninos e meninas foi feita dentro do capitalismo, com ferro e fogo. Esses jovens querem mais acesso a bens e serviços e não enxergam a militância nos partidos como algo que vai lhes trazer isso. Seus sonhos são outros! E que sonhos? O poder tem que ser claro, evidente, transparente, pragmático no sentido de garantir à sociedade o que ela necessita com agilidade. Em seus protestos estão a raiva contida por vários anos de indiferença e exclusão. Em suas manifestações declaram a indignação de viver num mundo onde as empresas e seus lucros exorbitantes tem mais poder que a sua cidadania. Sim, as inúmeras concessões que trabalham com os Governos maltratam com seus caros e maus serviços todos os dias os cidadãos brasileiros. O governos de esquerda, seus militantes entre eles eu me incluo, tem que ter olhos para observar, ouvidos para ouvir, sensibilidade para entender e braços para estender para essa geração de lutadores. São novos brasileiros que sonham! Vamos deixá-los frustrados, como fizeram conosco? Não podemos. Que os nossos sonhos possam voltar juntos com os deles e que juntos possamos continuar a construir a nossa história.

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